Com o passar dos anos as crianças têm se envolvido mais com a internet e as novas tecnologias, além disso, os brinquedos infantis estão se adaptando às tecnologias para que as crianças possuam contato com o ambiente virtual antes mesmo de possuírem um celular, tablet ou notebook próprio.

Os brinquedos inteligentes dispõem de conexão com a internet ou com Bluetooth e estão ganhando cada vez mais espaço no mercado. O objetivo desses objetos de diversão pode ser apenas o entretenimento das crianças, mas também pode ser educativo. Embora esses brinquedos sejam uma boa forma de iniciar o contato das crianças com o mundo virtual, colaborando com o desenvolvimento de inúmeras habilidades, é interessante que tanto as empresas responsáveis pela sua produção, bem como os pais das crianças estejam atentos à coleta de dados pessoais.

Brinquedos inteligentes com capacidade de acessar a internet ou de se conectar em dispositivos móveis por meio de Bluetooth ou WiFi podem coletar uma série de informações pessoais, sendo assim, é importante que a elaboração e utilização desses brinquedos evolva cuidado e responsabilidade. Alguns anos atrás o lançamento de certos brinquedos inteligentes trouxe à tona muitos debates sobre a privacidade e proteção de dados das crianças e de suas famílias.

Em 2015 as bonecas inteligentes “Hello Barbie” — da empresa Mattel — e “My friend Cayla” — da empresa Genesis Toys — foram alvos de críticas e ganharam destaque na mídia, devido às suas funcionalidades e vulnerabilidades. A boneca “My friend Cayla” foi lançada no mercado para ser uma boneca interativa para as crianças, o brinquedo possuía conexão Bluetooth para se conectar ao aplicativo complementar e tanto a boneca como o aplicativo realizavam coleta de dados pessoais das crianças. Após o lançamento do brinquedo, pesquisadores da consultoria tecnológica escandinava “Bouvet” — que foi contratada para testar a boneca — notaram que o brinquedo possuía falta de segurança, termos e condições ilegais, compartilhamento de dados pessoais, solicitação de informações potencialmente sensíveis etc. As pesquisas sobre a boneca trouxeram fatos que chocaram os consumidores, pois além da coleta excessiva de dados pessoais das crianças, ainda foi constatado que a conexão Bluetooth da boneca era vulnerável a ataques hackers, tornando os riscos ainda maiores. Os debates sobre a boneca foram longe e apareceram em sites populares, como BBC News e CBS News.

Assim como a boneca Cayla, a “Hello Barbie” também foi duramente criticada devido às falhas na segurança e privacidade. A boneca da Barbie se assemelhava a uma assistente inteligente — como a Siri nos aparelhos da Apple — e possuía conexão à internet para realizar buscas durante a interação com as crianças. A princípio a ideia soou atraente, pois as crianças poderiam fazer perguntas básicas e com o auxílio da internet a Barbie poderia responder algumas dúvidas, porém o aplicativo complementar necessário para utilizar a boneca, exigia alguns dados pessoais e enquanto a criança conversava com o brinquedo, um microfone coletava todas as informações ditas. O pesquisador Matt Jakubowski descobriu que além da coleta e uso de informações pessoais, a boneca também era muito vulnerável a ataques cibernéticos. Jakubowski mostrou que era possível entrar no sistema da Barbie e acessar os sistemas do usuário, ouvir as conversas através do microfone, ver os nomes de rede WiFi conectadas, localizar IDs de contas e arquivos etc. A “Hello Barbie” ficou conhecida como a Barbie que pode ser hackeada e apareceu em sites populares como The Guardian, CNN e BBC news.

Embora essas situações tenham acontecido anos atrás, é válido lembrar que brinquedos inteligentes ainda são planejados pelas empresas e a tendência é de que a tecnologia inteligente esteja cada vez mais presente durante a fase da infância. Casos como esses mostram a importância de entender os riscos que esses brinquedos conectados à internet podem trazer para as crianças de modo geral, afinal, esses objetos que visam o entretenimento podem ser tão perigosos quanto os celulares, tablets e computadores. A ideia que se tem sobre o que esses brinquedos podem proporcionar, em tese, não é ruim, pois as crianças estão usando celulares cada vez mais cedo e, às vezes, pode até ser interessante introduzir tecnologias mais limitadas logo no início para que as crianças não fiquem tão expostas e vulneráveis no futuro. Mas se a tendência é de que os brinquedos sejam mais tecnológicos, eles também devem ser mais seguros e responsáveis.

Com a vigência do GDPR na União Europeia e da LGPD no Brasil essa realidade se torna mais alcançável, visto que essas leis trazem bases legais para os tratamentos dos dados pessoais, princípios que devem estar presentes nos tratamentos, obrigações para os agentes de tratamento e direitos para os titulares dos dados pessoais. Ou seja, os agentes de tratamento de qualquer setor e segmento deverão atuar em conformidade com os preceitos legais, trazendo mais segurança para a privacidade dos titulares e níveis adequados de proteção aos dados pessoais. Com esse cenário, as empresas que pensam em produzir brinquedos inteligentes, que serão oferecidos para o Brasil ou União Europeia, devem implementar medidas técnicas e administrativas eficazes para proteger os dados pessoais das crianças e das suas famílias. As empresas terão que pensar em formas de manter tais brinquedos resistentes a ataques cibernéticos e garantir que os aplicativos complementares também sejam seguros, por se tratar de uma obrigação legal.

Embora os brinquedos inteligentes se mostrem perigosos à primeira vista, quando usados de forma segura e responsável, podem contribuir para o desenvolvimento infantil e até mesmo estimular certas habilidades. A elaboração dessas tecnologias deve ser pensada com muita cautela para que o resultado não seja desastroso. E mesmo nos casos em que as empresas comercializem brinquedos inteligentes mais seguros, os pais deverão se atentar aos requisitos de segurança do brinquedo antes de presentear os filhos, como:

 

  • Verificar se os dados pessoais que os aplicativos complementares, sites das empresas e os brinquedos coletam, são realmente necessários para o funcionamento do brinquedo inteligente.
  • Verificar as configurações dos aplicativos complementares e dos brinquedos (se possível) para diminuir a quantidade de dados pessoais coletados.
  • Verificar as políticas de segurança e privacidade das empresas responsáveis pelos brinquedos e dos aplicativos fornecidos por essas empresas.
  • Verificar se as empresas que fazem o brinquedo inteligente são confiáveis.
  • Verificar as funcionalidades do brinquedo e analisar seus possíveis riscos.

 

O cuidado com os dados pessoais deve ser frequente e tanto as empresas como os pais devem se atentar aos possíveis riscos, agindo para preveni-los da melhor forma possível.

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